sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Lembranças Efêmeras de uma Mente Sem Brilho - III

Vem, vida. Mas vem com raiva. Vem com sangue no olho. Você está atrasada. Eu já nasci. Já estou aqui. Gol fora de casa tem peso. Vem. Mas vem forte. O time é sem estrelas mas é unido. Joga fechado, trancado. Chutão ganha campeonato; golaço, nem sempre. O time é unido. Não tem craque mas tem raça. Você está irremediavelmente atrasada. Se vira. O seu banco é forte e não respeita o limite de substituições. O meu mal tem goleiro reserva. Eu sei. Eu não me importo. A bola rolando dá o tom. O resto é pose.

Você me queria vulnerável. Me queria fraco. Contra ataque fulminante. Foda-se. A gente joga na retranca. Queria raiva, queria ódio. Assim fica fácil. Desorganiza. Aqui não. O camisa 10 bate o pé e fica mesmo sem força pra chutar a maldita bola.n Ah, mas ele fica. O filha da puta teimoso não sai nem sangrando pelas unhas.

Resignação, vai ter. Como ganhar de um time recheado de estrelas? Bilhões na arquibancada vaiam. Torcem a favor das estrelas. Amor vende. É bonito. Golaço. A raça não. Ela gera cicatrizes, sangue. Talvez umas fotos bonitas. Mas não é o que se procura. A gente quer beleza. Dentro da subjetividade que todos temos ou daquela vendida nas capas do dia seguinte. A gente comemora gol de cagada, quando a bola bate e quica mas entra. Mas é meio triste ganhar assim. Mesmo que no último minuto com dois a menos. Sejamos sinceros. A bicicleta na pelada da quadra da pracinha do bairro é mais maneira que o gol de canela sem querer na final da Copa do Brasil. Só não é pra quem fez, pra quem torceu. Mas sua torcida é infinitamente maior do que a minha. Você tá aí desde que inventaram o futebol. Meu time foi criado esses dias. Nem tem tradição. Nem títulos. Porra nenhuma. Só uns apaixonados sem rumo que gostaram das cores, dos cânticos, sei lá. Mas vestiram a camisa. Você não, você tá em casa. Não é que queira o fracasso dos pequenos, é só o caminho natural das coisas. É natural os grandes vencerem. Natural.

Raiva a gente tem. Raiva você suga da gente. Mas a gente é bicho ruim. A gente é vida loka. A gente cresceu pocando o dedo em meio fio. Você vai ganhar. Vocês vão, é sabido. Vai rolar resignação, nós sabemos. Mas raiva não. A cabeça sai abaixada. Mas goleada não vai ter não. Cês vão ganhar de 1, 2, 2,5 a 0. Mas os três a zero vocês não conseguem. Porque a gente não torce. A gente joga junto. A gente não entra em campo. Entra em campo de batalha. A gente não joga. A gente vive.

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