"A vida simplesmente se esvai, como a água escorrendo entre nossos dedos. Já me é custoso lembrar de coisas, pessoas e momentos que deveriam ser impossíveis de esquecer".
Dizia as palavras em tom monocórdico, contrastando com uma estranha vontade estampada em seus olhos.
– Pouco a pouco perco meu passado... – continuou – sei que sou seu fruto, mas me sinto alheio a ele; apenas fragmentos ecoam em minha mente. Do futuro... – moveu o braço direito com a palma voltada para cima, em conformidade com a sobrancelha, enquanto dava alguma dramaticidade ao seu tom de voz – Ah, do futuro não tenho expectativas. Mal formulo um esboço e o presente já me atinge, inexorável. Me presenteia com novos entendimentos e novos fragmentos do que passou – murmurou, abanando a cabeça.
Uma suave brisa entrou pela janela do ônibus e moveu seus negros fios de cabelo bastante lisos quando o motorista acelerou para sair da rodoviária . Em poucos minutos a paisagem urbana já tinha ficado para trás, e muitas árvores passavam ao fundo de sua janela. Uma idosa tossiu violentamente três fileiras à frente de onde estava sentado, falando sozinho, sem companheiro algum para a viagem de aproximadamente 36 horas que faria.
– Custei a entender – continuou falando e gesticulando, ignorando a falta de um interlocutor – que não temos tempo para compreender. E o maior custo para saber que tudo se foi, foi ter ido. Dívida paga.
"No fim, só devi a mim".
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
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