Olhava para o céu.
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
Torrente
Olhava para o céu.
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
Ruim Com Eles, Pior Sem Eles
O terminal:
Acabara de saltar no Terminal de Laranjeiras – que não demonstrava nem um pouco de satisfação ao vê-lo, muito menos sorriu – e correu para o banheiro para se aliviar.
Enquanto o alívio tomava conta de seu ser, Frodo notou um jovem que estava no recinto insalubre junto dele. O garoto cheirava cocaína como se quisesse fazer nevar dentro de si. Frodo manteve-se indiferente ao aspirador de pó, pois notou um senhor de idade, que usava o mictório ao lado, apenas uma fração de segundo depois de sentir a presença do pequeno drogado. Esse sim prendeu sua atenção. Por desagradáveis oito segundos Frodo encarou o velho, não acreditava na cara de pau deste, que durante os oito segundos sequer fez menção de desviar o olhar de seu pênis. Frodo lavou as mãos e fugiu correndo do alcance visual do manja-rola.
Na fila do 506 tudo correra bem. Seu fone de ouvido resolveu estourar uma rebelião e não funcionou por mais de quinze segundos. Nesse curto intervalo entre uma música do Darkthrone e outra, Frodo ouviu sobre a violência crescente de um bairro cujo nome não significava nada para ele, e um trecho da história de um rapaz que queria dar cabo à própria vida porque sua namorada disse que não gostava de seu novo corte de cabelo. A história era tão promissora que Frodo desistiu de escutar música para ouvi-la até o fim.
Outra frustração. No fim, o cara entrou na casa da namorada. Frodo não escondeu um sorriso de satisfação pervertida ao pensar no casal desconhecido fazendo sexo, mesmo com o novo corte de cabelo do macho, que, julgava, seguia o modelo do corte do Neymar.
Seu sorriso esmaeceu ao notar que se encontrava na fila do 503 e que um 506 acabara de partir.
A viagem:
Dezesseis minutos depois, entrou num ônibus lotado, mas isso não foi problema. Em apenas quatro minutos de viagem, conseguiu sentar no lugar de um cobrador anão que descera do ônibus.
Sentado ao lado da janela, Frodo olhava pro céu nublado com cara de quem estava fazendo cosplay de Daron Malakian no clipe “Lonely Day”. Mas isso não é nem um pouco surpreendente, pois nosso valente guerreiro estava, de fato, ouvindo “Lonely Day”.
Mais do que de repente as batidas de funk surgiram no fundo do busão. O ônibus estava em Carapina àquela altura.
Em frente ao aeroporto Eurico Salles foi a vez de uma greve paralisar o funcionamento de seu fone. O esquerdo. Sempre o esquerdo!
Resolveu abstrair da sua condição existencial e tentou “curtir” o funk. Quando escutou “ela balança o cu na vara”, teve duas reações quase simultâneas.
Primeiro pensou na capacidade de obliteração de qualquer noção de convivência humana que provinha do funk, e concluiu: são visionários.
Em segundo lugar decretou que aquele dia era, definitivamente, um dia ruim, mesmo que fosse sua folga.
Mal finalizara mentalmente sua carta de suicídio e o ônibus atropelou uma velhinha.
Viagem interrompida / Mais um terminal:
Morte súbita. Frodo quis chorar. Ela foi o último elemento que entrara na sua pesquisa: noventa por cento dos velhinhos têm cara de bonzinhos, não importa o sexo, muito menos o passado. Ela fazia parte dos noventa. Uma pena, pensou.
Outro ônibus veio e Frodo completou o resto do trajeto com relativa paz. Espera, acho que não dei ênfase o suficiente na palavra “relativa”. Crianças berrando e violência sonora – funk – podem caracterizar distúrbios relevantes na viagem.
Enfim, Terminal de Jardim América.
Correu para não perder o ônibus, e sua passagem pelo terminal não teve traumas.
Como até o diabo tem momentos de sorte, Frodo foi tranquilo nos últimos vinte e três minutos de viagem, inclusive, ouvindo música.
A descoberta / A visita:
Ao descer do ônibus, em frente ao seu portão, Frodo chutou um pequeno objeto. Abaixou-se e pegou o que descobriu ser um anel. De plástico.
Frodo olhou para o anel como se este fosse um tesouro perdido de Atlântis e teve apenas um desejo: ser invisível.
Queria desaparecer do mundo, fugir das relações sociais e, principalmente, sumir da frente de qualquer motorista de ônibus.
Durante seus devaneios, Frodo entrou no modo “piloto automático” e já estava sem os tênis quando se sobressaltou com um visitante inesperado.
Gandalf adiantou-se das sombras e fez um breve discurso:
- Desamarre esta cara, jovem.
Não importa se você tem sorte ou não. O que realmente importa é o seu valor, o seu caráter.
No mais, já que falei de valor, acompanhe meu raciocínio. O transporte público deveria ser gratuito, mas não acha que menos de três reais são pouco frente ao confronto com novas histórias e vidas?
Ônibus. Ruim com eles, pior sem eles.
Ao término do monólogo, Frodo pensou com seus botões:
- Por isso que não gosto desse velho, ele só é útil com suas magias.
Pelo menos não tem ônibus nas Terras Imortais.
FIM
terça-feira, 30 de agosto de 2011
Receita
1 - Pegue qualquer trecho de sua percepção de realidade.
2 - Reflita sobre essa pequena amostra de caos por alguns minutos, em fogo baixo, afinal, somos seres racionais, não passionais.
3 - Faça uma análise. O quê? Quem? Como? Onde? Quando? Por quê? Sistematize o caos.
4 - Refogue suas mágoas.
5 - Adicione uma pitada da segunda lei da termodinâmica à sua tese.
6 - Sistematize os microestados novamente.
7 - Deixe a dialética secando até anoitecer.
8 - Escreva a frase "O destino é inexorável" em cima do seu preparado.
Pronto, é só comer e esperar sua mente digerir o seu passado.
PS: Quando for evacuar suas conclusões não se esqueça:
Viva La Merda!
quinta-feira, 9 de junho de 2011
O Sobrevivente
Navegava em seu mar de solidão.
Navegava em seu mar de ignorância.
Navegava em seu barco sobre águas plácidas.
Testa larga, nariz adunco e olhos desesperançados. Era como um comandante viking, porém, sem braceletes, sem vitórias, sem deuses e sem glória. Não passava de um pobre homem sem companhia, sem rumo e sem objetivos.
Era noite.
A visão daquele barco naquela imensidão de água negra formava um quadro lúgubre. A solidão era tão latente que nem as estrelas o encaravam. Nem a majestosa lua aparece nesse quadro.
Sentia uma vibração estranha desde o crepúsculo.
Ondas de insegurança invadiam o seu corpo ao mesmo tempo em que as ondas do mar viam de encontro ao seu barco.
O mar ficava cada vez mais agitado e o navegador sentia que a hora estava chegando. De súbito corre para o interior da embarcação e retira um colar de dentro de uma maleta. O objeto toca seu peito por sobre uma camisa surrada e suja.
“Finalmente. Finalmente chegou a hora”, pensa.
Após tantos meses navegando a esmo não sabia mais se estava perto de algo. Sabia que o mundo era redondo e sabia que ele dava voltas, mas volta e meia achava que a Terra se resumia ao mar contínuo e calmo.
Mas a hora havia chegado.
O mar está cada vez mais revolto e o marujo aguarda. Apesar de não ter nada que o prenda a esta vida, não vai se deixar entregar tão fácil. O instinto é mais forte que sua depressão.
Saíra para o mar para fugir, mas o destino não se engana.
Ondas fortes batem contra a embarcação. O barco chacoalha e a chuva espanca seu corpo de forma violenta. O “anônimo” – nome carinhoso que dera ao barco roubado – inclina-se num ângulo perigoso, à beira de um naufrágio. O homem sobe no mastro, desamarra as velas e sente a chama da esperança ser ofuscada por um brilho branco-azulado bem próximo ao seu rosto. Com o susto veio a queda; e a escuridão.
No céu, raios se entrelaçavam como veias de um braço poderoso, gerando uma bela imagem que ninguém contemplava.
Enquanto o fugitivo permanecia desmaiado, dois raios caíram no seu barco. Para sua sorte, madeira não conduz energia muito bem. No entanto, não se pode dizer o mesmo com relação ao fogo.
Labaredas altas lambiam aquele corpo adormecido, mas as ondas se encarregaram de empurrá-lo para uma tábua que flutuava intocada pelas chamas.
Algum tempo se passou.
Dor.
A primeira coisa que aquele ser sentiu foi dor. Sentia sua pele arder, o sal o incomodava e sua cabeça parecia estar sendo esmagada pelo martelo dos deuses. Mesmo com os olhos fechados, notou que era dia. Para sua surpresa, sentia toques. Humanos ou de animais?
Se arrependimento matasse esse homem nem teria presenciado o fogo-de-santelmo. Era um fugitivo dos mais clichês. Fugira do seio de sua família por motivos incertos. Fugira de sua vida entediante.
Decidiu abrir os olhos. A luz se apressou em fazer sua pupila se contrair, mas uma parcela dessa luz chamou sua atenção. A luz que era refletida por um corpo já bastante conhecido seu. Sua mulher segurava-o no colo com os olhos marejados.
A euforia peremptoriamente tomou o lugar da dor.
Todas as reflexões de meses se foram. A vergonha, o arrependimento, a saudade, a solidão, as dúvidas. Tudo passara.
Com um sorriso no rosto, aquele resquício de homem pensava: “Um raio pode cair duas vezes no mesmo lugar”.
Mal sabia o homem que essa já era a segunda vez em sua vida.
E para aqueles que questionam a probabilidade disso ocorrer, eu lanço uma pergunta.
O que significam chances e porcentagens diante do destino e do amor?
terça-feira, 7 de junho de 2011
Rotina
Esqueça tudo o que viu nos últimos dias. A encenação acabou. O ódio volta a protagonizar.
terça-feira, 26 de abril de 2011
Em Busca do Horizonte
Minha mente é um campo de batalha. Mas não um campo plano. Um campo de difícil acesso e compreensão. Estratégias não surtem efeito. O campo é traiçoeiro. Onde havia cumes, agora há depressões.
Muitas baixas e pouco avanço. As trincheiras mudam de posição, mas o fim parece estar além do horizonte. O sangue fétido salpica a terra. Sempre um soldado ferido está trauteando uma canção de tristeza, de saudade. Soldados que nem mesmo sabem o motivo da guerra. Não se recordam de como foram parar ali. Só possuem o instinto de lutar por um ideal. Mas o lema é, foi, e sempre será uma mentira. As baixas aumentam, a seta do tempo avança. Aquele é o inferno. Ele está lá. Ele está
terça-feira, 1 de março de 2011
O Ódio de Joãozinho
sábado, 19 de fevereiro de 2011
É O Que Eu Digo:
Alguns dirão que ele não deu chances ao amor.
Quando o amor deu o ar da graça, ele ignorou.