sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Prova



Para não deixar o blog às moscas, resolvi publicar este conto que escrevi no terceiro ano do ensino médio:

Seis da manhã, João Paulo acorda, se arruma e corre para o ponto de ônibus com um pedaço de pão na mão. Ele chega no ponto e nem se importa com o fato de que todas as pessoas à sua volta estão rindo dele. Ele acaba de perder seu ônibus, e terá que esperar o próximo.
Sem muita demora seu ônibus chega, e João Paulo, que apesar da adrenalina que corre em seu sangue pelo fato de estar atrasado em relação ao seu planejamento de horários, sente seus óculos pesados por ter estudado a noite-quase-inteira. Entra no ônibus sentindo-se bastante inseguro para com a prova.
Faz um ano que João Paulo começou sua rotina de estudos, porém ela nunca foi o que se pode chamar de regular, mas ao menos ela existia. Estudava pouco, porém, com intensidade, mas não resistia às tentações de jogar seu vídeo-game, de assistir sua série preferida na tv, ou de tocar seu violão, que ele nem sabia tocar.
O ônibus chacoalha, passa por buracos, mas não são os buracos na sua mente, que parece estar mais branca do que essas roupas de comerciais de sabão em pó, são os buracos no asfalto, que seu governo não cuida como deveria. "Ôpa!" - diz uma passageira, após o ônibus dar uma freada brusca. Ôpa, agora sou eu, é o ponto de João Paulo.
João Paulo entra na sala de provas, ouve as instruções, abre a prova e começa a responder as questões com uma velocidade boa, mas não só velocidade, consciência também. Meia hora após o início da prova, o ritmo de João Paulo caiu consideravelmente, até que chega o gabarito.
Algum tempo depois, João Paulo já está em casa corrigindo sua prova por conta própria, e bem convicto de que obterá sucesso, já que ele tem quase certeza de que acertou várias questões: "a maioria pelo menos" - diz ele à sua mãe, que está curiosa com o resultado do filho.
Três semanas e meia após o exame, sai a lista de aprovados, e reprovados também. A mãe de João Paulo pesquisa o nome do filho, para não ter que ler a lista inteira. E lá está: João Paulo - Reprovado. Ela se entristece por um instante, mas depois passa.
Primeiro dia de aula depois do resultado da prova e João Paulo encontra um de seus amigos que pergunta: "Pôxa cara, por que você não conseguiu?". E a resposta de João Paulo:
-Cara, a prova estava até fácil, mas tinha uma menina que não parava de fazer barulho com seus lanches, minha caneta falhou, eu estava com fome e eu nem queria passar, não muito. Fiz a prova mais pela minha mãe.
Tudo o que ele disse, do início ao fim, foi a mais pura, clara, límpida, e destilada, mentira, e por mais que ele tentasse demonstrar que não estava abalado, interiormente ele tinha ciência de que havia fracassado.

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