Há registros quase esquecidos de um ancestral comum a
todas as espécies chamado ser humano. Todos habitavam um esferoide de nome
Terra e as distinções entre os indivíduos da raça humana eram mínimas. Formados
pela mesma quantidade de cromossomos, dividiam-se em nações e era a economia o
pricipal meio de definição de status, direitos, possibilidades e deveres de
cada um.
O advento do assim chamado “espírito científico”
resultou em um crescimento vertiginoso da população daquela raça. Muita gente
reunida em um pequeno lugar (estima-se que o planeta possuía cerca de 13 mil quilômetros de diâmetro) e munida
de tecnologias então incipientes, como a internet e as aeronaves, resultou no
início da exploração espacial.
A história se desenrolou de modo rápido. Grosso modo,
notaram que as diferenças culturais e agendas políticas transcendiam fronteiras.
Conflitos internos foram extintos junto com a já obsoleta ideia de nação e a
adoção do conceito menos arcaico de esferas foi ponto pacífico. Cada indivíduo crescia
em uma determinada esfera previamente escolhida pelos progenitores e ao chegar
a vida adulta optava se queria mudar-se dali para um lugar onde as relações
sociais se davam de um jeito que lhe agradasse mais do que aquela onde nascera
aleatoriamente ou tornar-se um membro ativo de sua esfera.
Temos ainda hoje registros de um incrível amálgama de
sociedades de práticas distintas, belas e bárbaras, todas praticadas naquele
mesmo lar ancestral. A proliferação e o consequente acirramento entre esferas
de ideais destoantes somados ao avanço irrefreável das tecnologias levou a um
acordo comum que determinava a dispersão dos habitantes da Terra para um
sem-número de sistemas estelares distintos. Cada esfera com seu esferóide, foi
o lema à época.
Pouca coisa restou desse passado tão remoto, apesar
das façanhas tecnológicas que sobrevivem ainda atualmente, mas há de se
destacar a crença já difundida séculos antes de que o ponto de divergência era
iminente e o pacto da boa vizinhança não mais se sustentaria. O uso do prefixo “pós” em conceitos importantes
àquela época, como em pós-verdade e pós-modernismo, para ficar com poucos
exemplos, evidencia tal noção.
Hoje, algumas espécies tentam emplacar planos
imperiais que chocam-se com o estabelecido Pacto Universal das Bolhas. A
centelha entre espadas toma forma e o respeito entre as espécies quase não
possui adeptos. Muitas das novas civilizações optaram pela negação das nossas
semelhanças e passaram a alardear as diferenças. A tolerância foi esquecida com
a história. Vivemos em tempos de ebulição. E é na fervura que as bolhas se
chocam.